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Desmatamento causa 74% da redução das chuvas e 16% do aumento da temperatura na Amazônia durante a seca

Desmatamento na Amazônia sobe 17,8% entre agosto e março

05/09/2025 às 06h14
Por: Redação Tereré News Fonte: Ariquemes Online
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O desmatamento da Amazônia brasileira é responsável por cerca de 74,5% da redução de chuvas e por 16,5% do aumento da temperatura do bioma nos meses de seca. Pela primeira vez, pesquisadores conseguiram quantificar os impactos da perda de vegetação e das mudanças climáticas globais sobre a floresta.

Liderado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), o estudo traz resultados fundamentais para orientar estratégias eficazes de mitigação e adaptação, temas-alvo da Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP30, marcada para novembro em Belém (PA). Os resultados do trabalho estão publicados na última edição da Nature Communications e são destaque da capa da revista.

Os cientistas analisaram dados ambientais, de mudanças atmosféricas e de cobertura da terra de aproximadamente 2,6 milhões de quilômetros quadrados (km2) – 29 blocos com área de cerca de 300 km por 300 km cada um – na Amazônia Legal brasileira em um período de 35 anos (1985 a 2020). Utilizando modelos estatísticos paramétricos, destrincharam os efeitos da perda florestal e das alterações na temperatura, na precipitação e nas taxas de mistura de gases de efeito estufa.

As chuvas apresentaram uma redução de cerca de 21 milímetros (mm) na estação seca por ano, com o desmatamento contribuindo para uma diminuição de 15,8 mm. Já a temperatura máxima aumentou cerca de 2 °C, sendo 16,5% atribuídos ao efeito da perda florestal e o restante às mudanças climáticas globais.

“Vários artigos científicos sobre a Amazônia já vêm mostrando que a temperatura está mais alta, que a chuva tem diminuído e a estação seca aumentou, mas ainda não havia a separação do efeito das mudanças climáticas, causadas principalmente pela poluição de países do hemisfério Norte, e do desmatamento provocado pelo próprio Brasil. Por meio desse estudo, conseguimos separar e dar peso para cada um desses componentes, praticamente mostrando uma espécie de ‘conta a pagar’”, resume o professor Luiz Augusto Toledo Machado.

Pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e colaborador do Departamento de Química do Instituto Max Planck, na Alemanha, Machado diz à Agência FAPESP que os resultados reforçam a importância da conservação da floresta em pé para manter a resiliência climática.

Isso porque a pesquisa mostrou que o impacto do desmatamento é mais intenso nos estágios iniciais. As maiores mudanças no clima local ocorrem já nos primeiros 10% a 40% de perda da cobertura florestal.

“Os efeitos das transformações, principalmente na temperatura e precipitação, são muito mais importantes nas primeiras porcentagens de desmatamento. Ou seja, temos que preservar a floresta, isso fica muito claro. Não podemos transformá-la em outra coisa, como áreas de pastagem. Se houver algum tipo de exploração, precisa ser de forma sustentável”, complementa o professor Marco Aurélio Franco, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

Franco é primeiro autor do artigo e recebeu bolsa de pós-doutorado da FAPESP, que também apoiou o trabalho por meio de outra bolsa, do Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) e de um projeto vinculado ao Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.

O programa é desenvolvido em parceria com a Academia Chinesa de Ciências e tem a pesquisadora Xiyan Xu como uma das responsáveis no exterior e autora do trabalho.

Sensível equilíbrio do ecossistema

A Amazônia, como a maior e mais biodiversa floresta tropical do mundo, tem um importante papel na regulação do clima global. É responsável, por exemplo, pelos chamados “rios voadores” – cursos de água invisíveis que circulam pela atmosfera e abastecem outros biomas, como o Cerrado. As árvores retiram água do solo por meio das raízes, transportam até as folhas e a liberam para a atmosfera em forma de vapor.

No final do ano passado, um grupo internacional de pesquisadores, com a participação de Machado e do professor Paulo Artaxo, também do IF-USP, publicou um estudo na Nature mostrando, pela primeira vez, o mecanismo físico-químico que explica o complexo sistema de formação de chuvas no bioma. Envolve a produção de nanopartículas de aerossóis, descargas elétricas e reações químicas em altitudes elevadas, ocorridas entre a noite e o dia, resultando em uma espécie de “máquina” de aerossóis que vão produzir nuvens (leia mais em: agencia.fapesp.br/53490).

No entanto, o desmatamento e os processos de degradação da floresta contribuem com a alteração desse ciclo de chuvas, provocando a intensificação da estação seca em escala local e aumentando os períodos de incêndios florestais. A Amazônia brasileira perdeu 14% da vegetação nativa entre 1985 e 2023, de acordo com dados do MapBiomas, atingindo uma área de 553 mil km2, o equivalente ao território da França. A pastagem foi a principal causa no período. Mesmo chegando ao segundo menor nível de desmate entre agosto de 2024 e julho de 2025 – uma área de 4.495 km² –, o desafio tem sido conter a degradação, especialmente provocada pelo fogo.

A estação seca – entre junho e novembro – é o período em que os impactos do desmatamento são mais pronunciados, principalmente sobre a chuva. Os efeitos cumulativos intensificam mais a sazonalidade.

Luciana Constantino | Agência FAPESP.

As queimadas na Amazônia são causadas pela ação humana. A motivação é principalmente econômica, com foco na abertura de novas áreas produtivas para o agronegócio

As queimadas na Amazônia são um grave problema ambiental que acomete esse importante bioma sul-americano há décadas. Embora queimadas possam ter origem natural, sua ocorrência na Amazônia tem principalmente origem antrópica: a abertura de áreas para o desenvolvimento de atividades econômicas, como a pecuária extensiva e o plantio de commodities agrícolas, é a maior causa da ampliação dos focos de fogo na região."

"Os impactos das queimadas na Amazônia, que se agravaram substancialmente em 2024, são ambientais e socioeconômicos, além de contribuírem para a piora do aquecimento global. Reverter esse quadro impedindo o avanço das queimadas é urgente, e demanda esforços dos setores público e privado, como mediante a ampliação da fiscalização na área e o desenvolvimento de dispositivos legais que visem à maior proteção da floresta."

"Resumo sobre as queimadas na Amazônia

As queimadas na Amazônia são causadas pela ação humana. A motivação é principalmente econômica, com foco na abertura de novas áreas produtivas para o agronegócio.
O número de queimadas registrado no primeiro semestre de 2024 é o pior em 17 anos. Com o El Niño e as ondas de calor que aconteceram no ano, o tempo mais quente e seco favoreceu o agravamento das queimadas.
A fumaça das recentes queimadas na Amazônia tem chegado até os estados do Sul do Brasil, como Paraná e Santa Catarina, afetando a formação de chuvas nessas áreas.
Apesar dos agravantes de ordem natural, as causas para as queimadas na região da Amazônia em 2024 são, também, antrópicas.
As queimadas na Amazônia são um grave problema ambiental, portanto, resultam em impactos ao meio ambiente e aos seres humanos, como na perda de biodiversidade, na piora da qualidade de vida das pessoas e nas alterações no clima em escala regional e global.
Queimadas e desmatamentos são problemas diretamente relacionados, pois o fogo é uma técnica muito empregada na Amazônia para a remoção da cobertura vegetal.
Conter as queimadas na Amazônia é uma tarefa urgente que demanda esforços de todos os setores da sociedade, mas principalmente dos agentes públicos e econômicos.
Entre as medidas necessárias para diminuir as queimadas na Amazônia, estão a ampliação dos dispositivos legais de proteção da floresta e da flora brasileira como um todo e o aumento da fiscalização na região."

"Queimadas na Amazônia em 2024

O ano de 2024 foi um dos piores no que diz respeito ao registro de focos de queimada e de incêndio na região da Amazônia nos últimos 17 anos. De acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Pesquisa Espacial (Inpe), reunidos em sua plataforma BDQueimadas, no primeiro semestre do ano em questão, a Amazônia teve 13.489 focos de queimada. Foi o bioma mais ameaçado por esse tipo de problema nesse período, seguido muito de perto pelo Cerrado."

"Os focos de queimada na Amazônia em 2024 representam quase um terço dos focos identificados em todo o território nacional no mesmo intervalo de tempo. Considerando, ainda, a mesma plataforma, o mês de julho de 2024 se tornou extremamente preocupante para aqueles que acompanham as informações sobre queimadas na região: 11.434 focos de queimada foram identificados na Amazônia somente nesse mês. Entre janeiro e agosto, o número superou 45 mil focos somente no bioma.

Os estados do Amazonas e do Pará são aqueles que concentram o maior número de focos de queimada. Essa prática tem afetado os moradores locais e os ecossistemas amazônicos; ainda, a fumaça das recentes queimadas está se espalhando por outras regiões do país por meio de um corredor de ventos que está fazendo com que 10 estados sejam afetados. Santa Catarina é o mais longe que a fumaça chegou até o momento, o que indica a gravidade do problema.

Acredita-se que alguns fatores contribuíram para a piora no número de focos de queimada na Amazônia em 2024, para além da própria ação humana. O principal deles é o El Niño que começou em 2023 e tem sido um dos piores já registrados, trazendo tempo extremamente seco para a região Norte do Brasil. Somam-se a isso o agravamento das mudanças climáticas e o recorrente avanço de ondas de calor e períodos com queda drástica da umidade em diversas regiões do país.

Impactos das queimadas na Amazônia

As queimadas na Amazônia são um problema ambiental muito severo que impacta o equilíbrio da natureza e afeta diretamente a vida dos seres humanos. Não somente a vida daqueles que habitam na região amazônica sofre alterações com o fogo na vegetação como também das populações que vivem em outras áreas do país e do mundo. Nesse sentido, um dos principais impactos ocasionados pelas queimadas na Amazônia é a piora nas condições atmosféricas e a deterioração da qualidade do ar.

Temos observado o espalhamento da fumaça provocada pelas queimadas e pelos incêndios florestais na Amazônia em diversas partes do território nacional, chegando até mesmo aos estados do Sul do Brasil. Essa fumaça diminui a visibilidade, o que pode ocasionar acidentes em terra e aéreos, além de causar danos à saúde dos animais e dos seres humanos, notadamente problemas respiratórios e alérgicos. Outro problema trazido pela fumaça é a redução na formação de nuvens de chuva, o que impacta na precipitação e na umidade das áreas atingidas.

As queimadas na Amazônia provocam graves efeitos na fauna, na flora e no solo desse bioma. Isso porque ameaçam a biodiversidade, pois eliminam plantas de todas as espécies e acabam com o habitat de inúmeros animais, desde mamíferos a pequenos insetos. Não somente isso, o fogo é a causa direta da morte de indivíduos da fauna e da flora. Os seus impactos ambientais se estendem para o solo, que tem perda de fertilidade. Em conjunto com o desmatamento, as queimadas deixam o solo suscetível à lixiviação e à erosão.

Com o fogo na vegetação, há grande liberação de gases do efeito estufa na atmosfera, especialmente gás carbônico (CO2). Além disso, a perda de uma grande área verde reduz a absorção de carbono pelas plantas, o que acontece naturalmente por meio dos ciclos biogeoquímicos da natureza. Assim sendo, as queimadas contribuem para a mudança do microclima (clima local) em curto prazo, e, em médio e longo prazo, elas agravam o aquecimento global e as mudanças do clima em escala planetária.

Relação entre o desmatamento e as queimadas na Amazônia

As queimadas na Amazônia e o desmatamento estão diretamente relacionados. A remoção da cobertura vegetal é, em muitas das vezes, realizada pelo ateamento de fogo. Por conta disso, diz-se que as queimadas são uma das principais causadoras do desmatamento na Amazônica.

Tais focos de calor iniciados para a limpeza de áreas acabam se caracterizando como queimadas e, quando fora de controle, podem evoluir para incêndios florestais. Os mesmos motivos que levam à realização de queimadas estão na origem do desmatamento na região amazônica: fatores econômicos, a urbanização, e a abertura de novas áreas para o desenvolvimento de atividades como a mineração.

Desflorestação na Amazônia

A desflorestação, ou o desmatamento, na Amazônia é uma realidade que, assim como as queimadas, se instalou desde o princípio da exploração desse bioma sul-americano. Do extrativismo vegetal até a construção de grandes obras, como a Transamazônica, a retirada da vegetação nativa é um problema ambiental grave que ameaça, em conjunto com as queimadas, a maior floresta equatorial do mundo.

Dados recentes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério do Meio Ambiente indicam que, entre 2022 e 2023, o desmatamento da Amazônia foi de 9064 km², a menor taxa registrada desde o ano de 2019. A queda com relação ao ano de 2022 foi de 21,8%. Ainda assim, é válido reforçar que esse é um valor muito alto e que causa preocupação acerca do futuro desse bioma.

O MapBiomas estima que metade de todo o desmatamento que aconteceu no Brasil, desde a sua colonização até o ano de 2023, se deu na Amazônia. A floresta já perdeu quase 20% de toda a sua área recoberta por vegetação. Esse montante equivale a aproximadamente 55 milhões de hectares, e a atividade agropecuária foi a principal responsável pela perda ao longo dos anos."

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Fontes:

CASEMIRO, Poliana. Amazônia tem temporada recorde de queimadas, corredor de fumaça se espalha e afeta 10 estados. G1, 21 ago. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2024/08/21/amazonia-tem-pior-temporada-de-queimadas-em-17-anos-corredor-de-fumaca-se-espalha-e-afeta-10-estados.ghtml.

MCTI. Desmatamento na Amazônia cai 21,8% em 2023. Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI), 08 mai. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2024/05/desmatamento-na-amazonia-cai-21-8-em-2023.

OLIVEIRA, Vinícius. Número de queimadas na Amazônia em 2024 já é o maior para o período em quase duas décadas. Greenpeace Brasil, 25 jul. 2024. Disponível em: https://www.greenpeace.org/brasil/imprensa/numero-de-queimadas-na-amazonia-em-2024-ja-e-o-maior-para-o-periodo-em-quase-duas-decadas/.

PEIXOTO, Roberto. Entenda por que o Brasil registrou uma taxa inédita de queimadas neste 1º quadrimestre do ano. G1, 02 mai. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2024/05/02/entenda-por-que-o-brasil-registrou-uma-taxa-inedita-de-queimadas-neste-1o-quadrimestre-do-ano.ghtml.

Programa Queimadas do INPE. Disponível em: https://terrabrasilis.dpi.inpe.br/queimadas/portal/.

WWF. Número de queimadas explode e Amazônia tem o pior mês de julho desde 2005. WWF Brasil, 02 ago. 2024. Disponível em: https://www.wwf.org.br/?89340/Numero-de-queimadas-explode-e-Amazonia-tem-o-pior-mes-de-julho-desde-2005."

Crédito da Imagem: Shutterstock.com
Fonte: Brasil Escola.

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